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O que estão nos comunicando? O que podem nos ensinar? Eu me perguntava com frequência. Escutava as pessoas falarem “da pureza”, da “inocência”, da “harmonia” que eles transmitiam, mas intuía que não era por aí. Devia existir algo mais complexo e importante que povos tão antigos e resistentes tinham a nos ensinar. -Fernando Schiavini-
O indigenismo é um movimento de extensão latino americana, iniciado no México em 1940, de apoio à inserção dos direitos fundamentais das comunidades tribais junto aos governos de seus países. No Brasil, o grande precursor do indigenismo foi o Marechal Cândido Mariano da Silva Rondon, que teve seguidores de peso, como Darcy Ribeiro, Noel Nutels, Francisco Meirelles, irmãos Villas Boas, José Porfírio de Carvalho, entre outros. O maior legado de Rondon foi implantar um sistema governamental constitucional e, portanto, obrigatório, de atendimento às populações indígenas, em todas as áreas que seja demandado.
Entre essas áreas, está o atendimento à saúde indígena, atualmente a cargo da SESAI – Secretaria Especial de Saúde Indígena, no âmbito do Ministério da Saúde. A SESAI atua pelo sistema SUS. Planejado para ser um programa de massa, não se tem levado em conta, minimamente, as diferenciações culturais dos povos indígenas da sociedade nacional e entre si próprios, afinal, cada etnia detêm conhecimentos próprios de processos de prevenção e cura das doenças, além de cosmogonias diferenciadas. Obviamente, não há como criar programas específicos para cada povo indígena, mas pela fala dos palestrantes se entenderá que se as culturas são diferenciadas, os impactos causados pelos processos de contato com a sociedade envolvente são bastante parecidos.
As palestras do indigenista e escritor Fernando Schiavini e do líder da etnia Krahô*, Getúlio Kruwakrai, procurarão revelar os conceitos de saúde, doença, tratamento e morte entre as culturas indígenas, em comparação com os conceitos da medicina alopática, hegemônica no sistema SUS. A fala de Kruwakrai, um ancião Krahô, discorrerá sobre a sua educação genuína Krahô, e seus hábitos desde criança, e como eles estão se transformando. Contará como a sua etnia enxerga a saúde, a doença, o tratamento e a morte. Em seguida, o indigenista interpreta os fatos narrados por Kruwakrai de forma antropológica e fundamentando suas informações, sobre as contradições do atendimento oficial à saúde indígena, em texto publicado em seu livro “Os Desafios do Indigenismo” – Editora Kelps – 2015.
Krahô é um povo indígena que habita o estado do Tocantins, nos municípios de Itacajá e Goiatins. Falantes da língua “JÊ” , Familia Timbira, sua população atualmente é de cerca dde 4.000 pessoas, residentes em 32 aldeias.
Na palestra, o autor discorre sobre os complexos processos que as comunidades tribais necessitam trilhar para conseguir gerar rendas mínimas para a satisfação individual e coletiva, para a manutenção de um estilo de vida cada vez mais próximo do mundo capitalista e a demandar uma lista de bens de consumo industrializados, a cada dia mais extensa. Não possuindo a mentalidade capitalista, como poderão essas comunidades gerar renda de forma eficiente e continuada? É viável o uso de parcelas dos territórios indígenas para a produção agropecuária em larga escala? Quais seriam os mecanismos necessários e legais para a implementação de tais empreendimentos? Quais seriam as atividades econômicas sustentáveis mais próximas ou adaptáveis às comunidades tribais? Como funciona a distribuição de renda em comunidades tribais?
Em tempo de polêmicas sobre o usufruto dos territórios indígenas por terceiros, através de arrendamentos e outras iniciativas, nada mais urgente do que debater essas questões com especialistas que vivenciam cotidianamente o drama dessas comunidades, em busca de equilíbrio de relações e melhores condições de vida.
Os indigenistas talvez sejam as únicas pessoas que podem entender que, se os indígenas não podem mais viver sem nós, nós também não podemos viver sem eles, pois simplesmente representam nossas raízes mais profundas e o que restou de natureza em nosso país
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