No decorrer da história brasileira, os povos indígenas foram vítimas de inúmeros enganos e covardias, que tinham o intuito de dominá-los ou exterminá-los. Entre várias estratégias, era muito comum os fazendeiros oferecerem a um povo que desejavam exterminar, uma festa com muita comida e presentes, para atacá-los traiçoeiramente. Muitos povos indígenas são isolados por opção. São remanescentes dessas covardias históricas, usadas para “desinfestar” os sertões, pelos que se julgam “civilizados.
Os ruralistas estão reproduzindo direitinho a história de ocupação deste país, com a aprovação da PEC-215. Prepararam uma grande festa, esse indefectível “Iº JOGOS MUNDIAIS INDÍGENAS” e desferiram uma profunda facada em todos os povos indígenas do Brasil, seus aliados e simpatizantes. Típico de uma elite rural originária das primeiras caravelas colonizadoras europeias, que permanece na mentalidade medieval, de avançar a colonização a qualquer preço, usurpando os territórios indígenas à força nas suas fronteiras e reinventando sorrateiramente a legislação na corte. Seguem, desembestadamente, a dominar, matar e destruir, sem atentarem ao que acontece ao planeta.
Os povos indígenas preservam cerca de 13% do território brasileiro. Essa preservação é visível para quem viaja pelo país ou recorre aos programas de mapas na internet. Verdadeiras ilhas de verde em meio à devastação, as terras indígenas atualmente demarcadas e homologadas são frutos da resistência e da conquista dos povos indígenas e seus aliados em mais de 500 anos. Os indigenistas governamentais, as entidades da sociedade civil, a igreja católica através do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), fizeram parte do movimento por essas conquistas nos últimos 40 anos, perpetuadas, segundo se acreditava, na Constituição de 1988.
Obviamente a coisa não ficará assim. A causa indígena atinge milhões de simpatizantes no Brasil e no mundo. Quanto mais a crise se espalha e aprofunda no mundo capitalista, mais pessoas voltam os olhos para os povos tribais, que continuam preservando suas tradições e a natureza, pois isso é intrínseco às suas culturas. Esse é o problema: o mundo mudou e os “caras” do agronegócio não perceberam. Não se trata de armas, mas de consciência.
Mas, aqui pra nós, como são ingênuos muitos dos nossos parentes! Deixarem-se atrair a esses tais jogos indígenas, que são realizados ha quase 15 anos, sem terem levado nenhum benefício prático às aldeias. Só vitrine. Só romantismo, realimentado constantemente pela grande mídia, desde José de Alencar.
Está-se deixando passar uma oportunidade fantástica, com a realização das Olimpíadas no Brasil em 2016, de se promover, de fato, os esportes tradicionais e não tradicionais nas aldeias indígenas. Muitos dos esportes mostrados durante os jogos estão em vias de desaparecimento. Além disso, muitos esportistas indígenas poderiam estar competindo em níveis regionais, nacionais e internacionais, se houvesse incentivo e acompanhamento técnico. O esporte nas aldeias pode representar uma ótima ferramenta de inserção de jovens na modernidade, sem perda das características culturais.
O mínimo que os organizadores desses jogos, que se dizem indígenas, deveriam fazer, é ordenar a sua imediata paralização. Se não o fizerem, serão acusados eternamente pelos seus parentes, de traidores de seus povos.